quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Superficialidade ( Daniel Piza)


Mente quem diz que é humano amar o belo.
Que espécie de amor é esse feito de inveja?
Afinal, a beleza fascina até os fascistas
Que dela se vingam tentando uniformizá-la.
Por trás dos olhos da multidão que brilham
Há sempre o desejo secreto de escuridão
E a cada aplauso da plateia mais alto ressoa
Rumor do ressentimento contra a harmonia.
Em cada constatação de como ela é linda
Subsiste, constante, a esperança de que decaia.
Em cada apelo desesperado por devorar,
A fome inextinguível de que não sobreviva.
A beleza, porém, se sabe difícil desde cedo
E aos poucos aprende que tem mil faces,
Pois também lhe é inerente a companhia
Da elegância, do charme e da delicadeza,
De todos os requintes da sensibilidade.
E isso dói ainda mais. E reagem os não belos
– E especialmente os que são só superfície –
Porque não toleram que a beleza tenha fundo,
Que não seja apenas rima para iludir os tolos.
Armam, então, conspiração quase universal
E atacam os que se recusam a se vulgarizar
– E as mulheres belas e talentosas e perspicazes,
Que se tornam donas de seu poder sensual,
São o alvo maior desse combate disfarçado.
Os brutos exigem que a beleza vista máscara,
Esquecendo que à linda mulher basta ser
– Mesmo que bastar ser seja tão complexo.
Assim, da aparente fragilidade e fugacidade,
O que é belo extrai a força para ser eterno.
Eis a vitória da derrota, eis o peso da leveza,
Eis o paradoxo que mais irrita este mundo feio.
Por ser tão amada e odiada, só a beleza vinga

Um comentário:

Alaer Garcia disse...

Tem momentos que acho que nao errei em escrever-¨Sem solidao nao ha solucao´-pois aneurociencia descobriu os neuronios espelhos.